domingo, 5 de fevereiro de 2017

Advaita Saptamī - Aparecimento Transcendental de Advaita Acharya




Deidade de Advaita Acharya em Shantipur

Advaita Saptamī é o dia em que Advaita Ācārya apareceu neste mundo. Advaita Ācārya, a causa do mundo material, foi o primeiro a aparecer, depois veio Nityānanda Prabhu em trayodasī e o Próprio Śrī Caitanya Mahāprabhu em pūrṇimā, descendo neste mundo com o esplendor de rādhā-bhāva. Dessa forma, iniciam-se os passatempos de Mahāprabhu.

vande taṁ śrīmad-advaitā-cāryam adbhuta-ceṣṭitam



yasya prasādād ajño ’pi tat-svarūpam nirūpayet



Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā 6.1)

Oro a Advaita Ācārya, cujos passatempos são especialmente maravilhosos, para que, por sua misericórdia, eu seja capaz de descrever este difícil tattva facilmente. O que são estes maravilhosos passatempos? Ao ver Nityānanda Prabhu, Advaita Prabhu começou a reclamar: "De onde vem este avadhūta? Hoje ele chegou em nossa casa e lançou prasāda em todas as direções! Ele não sabe a qual classe pertence, na verdade, ele não se enquadra em nenhuma classe! Nós somos brāhmaṇas, somos os melhores da sociedade, e ele derrubou prasāda sobre os corpos de todos os aqui presentes!”


Então Nityānanda Prabhu disse, “Ei, aparādhī! Você está comentando uma ofensa contra mahā-prasāda. Você a considera um mero alimento que está apenas sendo jogado ao vento? Você é incapaz de ver a boa fortuna que ela concede, e qualquer um que tenha seu corpo tocado por tal prasāda conseguirá definitivamente superar māyā”.

Dessa maneira, geralmente costumava haver algumas brigas entre eles. Até quando se banhavam, havia algum bate-boca. Nessa época, Nityānanda Prabhu era muito jovem. Mahāprabhu era o mais novo, depois vinha Nityānanda e então o mais velho de todos, Advaita Ācārya, cujas ideias podiam ser por vezes muito difíceis de compreender. Certa vez, ele enviou um misterioso soneto para Mahāprabhu.

bāulake kahiha, – loka ha-ila bāula bāulake kahiha, – hāṭe nā vikāya cāula

bāulake kahiha, – kāye nāhika āula bāulake kahiha, – ihā kahiyāche bāula

Śrī Caitanya-caritāmṛta (Antya-līlā 19.20–1)

Um lunático manda uma mensagem para outro lunático. Não há mais a necessidade de arroz nos mercados, já é hora de fechar a loja.

Ninguém foi capaz de compreender tal soneto. Após lê-lo, Mahāprabhu se mostrou indiferente. Somente Svarūpa Dāmodara foi capaz de entender um pouco o humor de Advaita Ācārya; ninguém mais podia compreendê-lo. Ele quis dizer que um lunático – Advaita Ācārya, ensandecido por kṛṣṇa-prema – envia uma mensagem para outro lunático – Śrī Caitanya Mahāprabhu, que deixou o mundo ensandecido por kṛṣṇa-prema, a loucura original. “Não há mais a necessidade de arroz” indica que todos haviam recebido prema e que a tarefa já estava concluída. "Portanto, a loja deve ser fechada” indica que “Seus passatempos neste mundo material chegaram ao seu desfecho”. Mas ninguém foi capaz de entender isso; somente Svarūpa Dāmodara entendia o significado. Dessa forma, os passatempos de Advaita Ācārya eram misteriosos e maravilhosos.

Embora a essência da Bhagavad-gītā advogue em nome de bhakti, na época do aparecimento de Advaita Prabhu, ninguém explicava dessa forma. A mensagem da Gītā é repleta de devoção – viśate tad anantaram (Bhagavad-gītā [18.55]): "Por fim, ele entra em Mim”. Os Advaitavādīs entendem que isso indica que Bhagavān e a jīva se fundem em Brahman e se tornam um. Eles dizem que ao entoar “ahaṁ brahmāsmi” e ao praticar meditação, a individualidade aparente das almas se mesclam no final e que esse mundo material é falso. Advaita Ācārya inicialmente explicou bhakti a partir dos seguintes versos: satataṁ kīrtayanto mām (Bhagavad-gītā (9.14)); ananyāś cintayanto māṁ, ye janā˙ paryupāsate (9.22); e bhakti labhate parām (18.54) – no final, alcançaremos bhakti. Por meio dos preceitos descritos nestes versos, então viśate tad anantaram – entramos em bhakti. Não que encontramos Bhagavān em Brahman, entrando em uma luz não diferenciada. Viśate indica que entramos em Seu dhāma e obtemos Seu serviço, mas alguns tentavam modificar o significado.

Depois de algum tempo, Advaita Ācārya foi até Śāntipura e também começou a explicar o significado de viśate tad anantaram como “ahaṁ brahmāsmi: todas as almas se mesclarão em Brahman”. Ao ouvir isso, Mahāprabhu foi até lá e puxou sua barba e o açoitou até que Sītā-devī, a esposa de Advaita Ācārya, apareceu para protegê-lo. Isso também é maravilhoso, pois após ter sido açoitado, Śrī Advaita ficou jubilante e começou a dançar. Antes disso, Mahāprabhu oferecia praṇāma a ele e demonstrava o respeito condizente a um guru, pois Advaita Prabhu era discípulo de Mādhavendra Purī. Mahāprabhu pensava, “Ele é um discípulo do Meu parama-guru, então é Meu dever oferecer praṇāma e sevā a ele. Ele é digno de Minha veneração, portanto devo servi-lo e venerá-lo”.

Para livrá-Lo dessa incumbência, Advaita ācārya deu a explicação impersonalista nirviśesavāda da Bhagavad-gītā. Quando Mahāprabhu irritou-se e começou a açoitá-lo, Advaita Ācārya disse, “Hoje atingi o sucesso em minha vida. Quero que aceite meu serviço, pois Você é meu superior. Quem poderia ser superior a Você?” Mahāprabhu então se encabulou.

Em outra ocasião, Mahāprabhu disse a Sua mãe Śacī-devī, “Não demonstrarei mais o meu amor por você, pois desrespeitou um devoto. Você cometeu vaiṣṇava-aparādha ao dizer a Advaita Prabhu, “Seu nome Advaita (não-dual) não é apropriado; você deveria se chamar Dvaita (dual). Você não é advaita, é dvaita”. Disse que Advaita Ācārya traz a ‘dualidade’, separação nos relacionamentos - que ele separa uma mãe de seu filho, um pai de seu filho, um irmão de seu irmão. Advaita Ācārya explica o caminho da devoção, rompendo assim os grilhões que enredam o indivíduo ao mundo material. Uma mãe sente afeição natural por seus filhos, mas se Advaita Prabhu é capaz de aumentar a atração espontânea de alguém por Kṛṣṇa, o que então poderia ser superior
a isso? Se alguém está dando instruções de que a jīva se esqueceu de Bhagavān por milhões de nascimentos, estabelece sambandha (conhecimento de nossa real relação com Bhagavān) e sādhya (a realização final) e dá instruções de como o bhajana corta os grilhões que nos prendem ao mundo material, o que poderia ser superior a isso?”

Śacī-devī respondeu, “Ele me separou do meu amado Viśvarūpa. Ele deu instruções que culminaram na separação de meu Viśvarūpa, que deixou a sua casa e se tornou sannyāsī. Portanto, “Advaita” indica aquele que uma vez conhecido, a pessoa não desejará mais nada neste mundo. Então seu nome deveria ser “Dvaita””.

Mahāprabhu disse, "Por ter se dirigido a um devoto dessa forma, nenhum de nós continuará demonstrando amor por você”.

Enquanto ela ficou ali parada, todos lhe disseram que devido à ofensa cometida aos pés de Advaita Ācārya, não poderiam mais demonstrar nenhum amor por ela. Então, Śacī-devī implorou o perdão de Advaita Ācārya, mas em vez disso ele caiu aos seus pés de lótus e lhe disse: “você é a mãe de todo o mundo. Não é possível que cometa nenhuma ofensa. Mas tudo bem, se alguém está dizendo que houve alguma ofensa, eu digo que está perdoada.” Então Śacī-devī retornou a Mahāprabhu e tudo ficou bem. Muitos passatempos maravilhosos, como este mencionado aqui, foram executados por Śrī Advaita Prabhu.

Advaita Acharya invocando o Senhor Supremo
Advaita Ācārya também foi fundamental para trazer Śrī Caitanya Mahāprabhu para este mundo. No fim de Dvāpara-yuga, após concluir Seus passatempos neste mundo e retornar para Goloka Vṛndāvana, Śrī Kṛṣṇacandra pensou, “Eu tenho três desejos que ainda não foram satisfeitos. Compreender as glórias do amor de Rādhikā, descobrir a doçura que Ela encontra em Mim e experimentar essa doçura – sem adotar o sentimento da Própria Rādhikā e a refulgência de Sua forma, não será possível experimentar essas três coisas. Já experimentei sakhya-rasa, vātsalya-rasa e mādhurya-rasa, mas ainda não fui capaz de experimentar a felicidade que Ela sente ao Me ver e qual é a natureza do Seu prema por Mim. Para experimentar isso, eu preciso retornar ao mundo material”.
Naquele momento, havia a necessidade de se dar yuga-dharma. A era de Kali, que dura 432.000 anos, havia chegado. Normalmente, ao final de cada yuga surge uma encarnação de Bhagavān. No final de Tretā-yuga, Rāmacandra surgiu e no final de Dvāpara-yuga, Kṛṣṇa surgiu. Dessa forma, um yuga-avatāra vem quando a desordem no mundo material atingiu seu limite mais alto.

dharma-saṁsthāpanārthāya sambhavāmi yuge yuge

Bhagavad-gita (4.8)

A fim de restabelecer os princípios da religião, Eu apareço milênio após milênio.

Bhagavān pensa, “Veja o quanto as atividades pecaminosas estão aumentando e como o caos se alastra devido às atividades demoníacas. Quando devo descer?"

Então, na verdade, há quatro razões para a vinda de Mahāprabhu. Duas delas principais e duas secundárias. A razão principal é experimentar o prema de Rādhikā e a segunda é:

anarpita-carīṁ cirāt karuṇayāvatīrṇa˙ kalau
samarpayitum unnatojjvala-rasāṁ sva-bhakti-sriyam

Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā 1.4)



Por Sua misericórdia sem causa, Ele surge na era de Kali para conceder o que nenhuma outra encarnação ofereceu anteriormente: unnata ujjvala-rasa – o amor mais doce e sublime a Seu próprio serviço.

Mahāprabhu queria conceder uma riqueza particular de prema para as jīvas que jamais haviam sido agraciadas com as encarnações anteriores: unnata-ujjvala-rasa – a parakīya-bhāva das gopīs. Há dois tipos de unnata-ujjvala-parakīya-rasa. Um tipo é o sentimento de Rādhikā, que não pode ser concedido. Mas o outro, o sentimento das nitya-sakhīs e das prāṇa-sakhīs que servem e seguem Rādhā e que também servem Kṛṣṇa – essa unnata-ujjvala-rasa pode ser concedida. Portanto, para oferecer o prema mais elevado a todas as jīvas e para experimentar o prema de Rādhikā, Kṛṣṇa aparece.

A terceira razão é para pregar yuga-dharma, nāma-saṅkīrtana; e a quarta razão é:

yadā yadā hi dharmasya glānir bhavati bhārata

abhyutthānam adharmasya tadātmānaṁ sṛjāmy aham

Bhagavad-gita (4.7)

Quando e onde houver um declínio na prática religiosa, Ó descendente de Bharata, e um aumento predominante da irreligião – neste momento, eu desço.


Estas são as quatro razões. Kṛṣṇa pensava, “Quando devo ir? Para estabelecer yuga-dharma, descer no final da yuga é correto, mas se em vez disso Eu pregar nāma-saṅkīrtana no início da yuga, a influência degradante da yuga terá um efeito menor nas jīvas. Quando devo conceder o sentimento das gopīs e quando devo experimentar o amor de Rādhikā?” Ele considerou todos estes pontos.

Enquanto isso, Advaita Ācārya presenciava bhakti desaparecendo gradualmente deste mundo e pensou: “Agora é o momento apropriado para a encarnação de Kṛṣṇa. Se ele não vier agora, o que acontecerá depois?” Ao mesmo tempo, ele também pensava na forma de Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu. Contemplava em um ponto onde sattva, rajas e tamas estão todos na mesma posição. Há duas causas do mundo: uma é upādāna, a causa ingrediente, e a outra é nimitta, a causa eficiente. O próprio Mahā-Viṣṇu é a causa nimitta, e sua parte, Advaita Ācārya, é a causa upādāna.

Suponhamos que se eu apontar para alguém e falar: “este homem é um vândalo, ladrão e mentiroso. Agarre-o e expulse-o; sua entrada aqui jamais deverá ser permitida novamente.” Você pode nem conhecê-lo, mas ao me ouvir dizer isso, rapidamente o expulsa. Qual foi a causa de sua expulsão? Foi através da minha ordem de pegá-lo e expulsá-lo daqui, então você é a causa upādāna e eu sou a causa nimitta. Mas quem é a causa real do homem ter sido expulso? O seu comportamento inadequado, o próprio homem é a causa; e esta é exatamente a situação em relação a criação do mundo material.

Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu assume duas formas para criação do mundo material: a causa eficiente e a causa ingrediente. Quando as duas se unem, incontáveis brahmāṇḍas são gerados. Mas se Bhagavān não injetou o Seu desejo, o que acontece? Em qualquer atividade, primeiro há o desejo para que, de fato, algo possa ocorrer. Portanto, o desejo de Mahā-Viṣṇu é a causa primária, e dependente do Seu desejo está o desejo de Advaita Ācārya, que é a causa secundária. Desta forma, Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu executa a atividade de criação do mundo, e Sua encarnação é Advaita Ācārya.

advaita-ācārya gosāñi sākṣāt īshvara yāṅhāra mahimā nahe jīvera gocara

Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā 6.6)

Śrī Advaita Ācārya é diretamente o Próprio Īshvara. Suas glórias não podem ser compreendidas por entidades vivas ordinárias.
Do mahat-tattva, surge o falso ego. Do falso ego surge o som, o toque, a forma, o sabor e o cheiro. Em seguida vêm os onze sentidos e depois os cinco elementos materiais. Isso soma vinte e dois, e com a inteligência e mente já são vinte e quatro. Ao adicionar prakṛti, puruṣa, ātmā e Paramātmā, reunimos vinte e oito aspectos de tattva. Deixando de lado Bhagavān e jīvātmā, todo o restante é aceito pelas escolas de pensamentos de sāṅkhya e nyāya.

ye puruṣa sṛṣṭi-sthiti karena māyāya ananta brahmāṇḍa sṛṣṭi karena līlāya icchāya ananta mūrti karena prakāśa

eka eka mūrte karena brahmāṇḍe praveśa

se puruṣera aṁśa – advaita, nāhi kichu bheda śarīra-viśeṣa tāṅra – nāhika viccheda

sahāya karena tāṅra la-iyā ’pradhāna’ koṭi brahmāṇḍa karena icchāya nirmāṇa

Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā 6.8–11)

Mahā-Viṣṇu executa a função de criação de todos os universos materiais e Advaita Ācārya é uma encarnação direta dEle. Criar e manter estes incontáveis universos com sua energia externa é seu passatempo e por sua própria vontade ele se expande em inúmeras formas e entra em cada um destes universos. Advaita Ācārya é uma parte integrante não-diferente de Mahā-Viṣṇu, ou em outras palavras, outra forma dele.

Alguns dizem que a natureza encena o processo de criação por si só com base no seguinte exemplo: "Uma vaca come grama, e automaticamente o leite é produzido. Qual a necessidade de qualquer outra pessoa neste processo? Dessa forma, a natureza faz tudo por si só.”

Para refutar isto, um Vaiṣṇava inocente e de pouca instrução disse, “A vaca come a grama e dá o leite, então como o touro come a grama e também não dá leite? Ele precisa comer mais grama?”

O paṇḍita da escola sāṅkhya precisou pensar um pouco. Então ele disse, a respeito da causa upādāna: “para fazer uma casa, todos os elementos, tais como tijolos, são necessários.”

Então o Vaiṣṇava disse, “Para construir uma casa são necessários tijolos ou cimento, então se eu trouxer mil quilos de cimento, dez mil tijolos, um lago imenso, madeiras e mármore,  essas coisas farão uma casa? Somente por upādāna isso não acontecerá, pois é necessário a causa nimitta. Mesmo que haja uma caneta e um papel, eles por si só escrevem? Portanto, a natureza material por si só não cria nada sem que o desejo de Bhagavān esteja presente.”

Nenhuma ação ocorre neste mundo por si só, por isso esta filosofia prakṛtivāda é incorreta. Prakṛti significa matéria, puruṣa consciência e quando ambas se unem, surge a criação. Em prakṛti não há nenhuma ação, nenhum desejo inato – trata-se de uma matéria inerte. Mas ao ser ativada por puruṣa, a tarefa é automaticamente realizada. Os comunistas dizem, "Qual a necessidade de Deus nisto tudo? A natureza por si só já cria", mas não há ninguém no mundo capaz de criar algo por conta própria.

Certa vez, um coxo e um cego estavam indo para algum lugar juntos e o homem coxo disse, "Leve-me nos seus ombros. Com os meus olhos eu lhe direi para ir para a direta, esquerda ou seguir reto em nosso caminho, e com suas pernas chegaremos lá. Do contrário, nem você nem eu chegaremos lá.” Trabalhando juntos, eles conseguiram chegar ao destino desejado. Neste exemplo, o homem manco é consciente e o homem cego também, e por ambos serem conscientes, o trabalho foi concluído. Mas na criação, apenas Bhagavān é consciente, e a natureza não. Sem ao menos um ser consciente, não é possível realizar nenhum trabalho no mundo. Estas questões podem parecer um pouco áridas, mas são pontos muito importantes e agradáveis relacionados à bhakti e os Vaiṣṇavas devem se esforçar para entendê-los.

Em todo este tattva, a causa raiz do mundo material é Kṛṣṇa, pois originalmente é Ele quem injeta o Seu desejo. Ele se torna dois tipos de Saṅkarṣaṇa: a raiz Saṅkarṣaṇa e Mahā-Saṅkarṣaṇa. De Mahā-Saṅkarṣaṇa, Ele se torna Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu e, subsequentemente, torna-se Advaita Ācārya e a causa upādāna. Algumas pessoas dizem que a causa upādāna está separada de Bhagavān, que a causa upādāna do mundo material não é Bhagavān. Elas dizem que Ele pode ser a causa nimitta, mas não a causa upādāna. Mas além de Kṛṣṇa não há nada, então de onde veio o mundo material? Qual a origem do mahat-tattva? Também surge do desejo de Kṛṣṇa. Não há nada em toda a existência que esteja separado dEle. Kṣraṇodakaçāyī manifesta a criação e o mahat-tattva, a própria natureza, não é diferente dEle. Para corrigir as almas que se esqueceram de Bhagavān, prakṛti se manifesta por Seu desejo e provê uma forma externa à jīva. A jīva pode considerar sua posição nesta condição de vida como uma oportunidade de grande felicidade mas, na verdade, trata-se de um castigo. Tal como quando um homem louco dança nu por aí – mesmo sendo açoitado pelas pessoas, sem comer ou beber, ele diz: “Eu sou o rei” ou “Eu sou o primeiro-ministro”, e desse modo ele acha que é feliz. Nossa condição é exatamente essa. Podemos nos considerar felizes, mas certamente nossa condição não é de felicidade.

Advaita Ācārya estava pensando, “Este mundo se tornou ateísta. Uma após a outra, as pessoas estão se esquecendo de Bhagavān, e corrigi-las sozinho não é uma tarefa possível para mim. Trazer devoção para os não-devotos será um trabalho muito difícil. Sem a śakti do próprio Kṛṣṇa, não será possível.”

Além dos devotos, há muitas pessoas no mundo pregando, mas estão todos pregando māyā. Estão pregando filosofias distorcidas e, ao ver isso, Śrī Advaita pensou: “Eles não têm nenhuma relação com Bhagavān e não pregam bhakti. Mesmo quando pregam com base no

Śrīmad-Bhāgavatam e Bhagavad-gītā, eles expressam apenas os desejos de suas mentes. São indiferentes ao sanātana-dharma e à devoção pura, e todos eles – especialmente os māyāvādīs – só ouvem o que desejam ouvir. Derrotar Rāvaṇa não foi uma tarefa tão difícil e matar Kaṁsa também não foi tão árduo. Tais ações poderiam ter sido realizadas por uma encarnação de Viṣṇu, mas mudar o pensamento destes māyāvādīs é muito difícil. Isso só será possível caso o Próprio Kṛṣṇa venha a este mundo”.

Já com quase sessenta anos de idade quando Mahāprabhu apareceu, Advaita Prabhu era o mais velho de todos os associados de Caitanya. Nityānanda Prabhu era cerca de cinco anos mais velho que Mahāprabhu. O plano de Mahāprabhu era inicialmente organizar o aparecimento de Seus devotos neste mundo e depois Ele próprio descenderia. Advaita Ācārya apareceu primeiro e, ao observar a condição do mundo, pensou: “Como chamarei Kṛṣṇa? Há muitas maneiras de adorar Kṛṣṇa, mas de todas elas, as glórias de tulasī são as mais elevadas. Kṛṣṇa ficará tão satisfeito com aquele que lhe oferecer folhas de tulasī e água do Ganges que tal pessoa terá domínio completo sobre Ele”. Depois disso, ele pegou um botão de tulasī – duas folhas macias com uma mañjarī no meio – e, com grande prema e lágrimas fluindo pelos olhos, adorou Kṛṣṇa às margens do Ganges.

Originalmente, Kṛṣṇa pensava, “Quando descerei? Talvez em dez ou vinte mil anos, ou mesmo após cem mil anos”. Mas quando ouviu a oração de Advaita Ācārya, Ele veio imediatamente. Portanto, Advaita Ācārya é outra razão importante da vinda de Mahāprabhu.

Após seu nascimento, Śrī Advaita recebeu o nome de Kamalākṣa, pois seus olhos eram tão belos quanto pétalas de lótus. Ele apareceu em Srihatta, na Bengala Oriental. Permanecendo um tempo em Navadvīpa e às vezes em Śāntipura, ele começou a pregar bhakti. Ele estava em Navadvīpa quando Mahāprabhu nasceu. Viśvarūpa frequentou a escola de Advaita Prabhu. Certo dia, mãe Śacī pediu que Nimāi chamasse Seu irmão; quando Ele chegou à escola, Nimāi olhou na direção de Advaita Ācārya e disse, “O que você vê? Você Me chamou aqui e não Me reconhece? Quando a hora apropriada chegar, você certamente Me reconhecerá”.

Há ilimitadas encarnações de Viṣṇu e todas elas não são diferentes de Kṛṣṇa, mas suas atividades e passatempos são diferentes. Portanto, por Advaita Ācārya não ser diferente de Hari, ele é advaita, e por ter manifestado bhakti em todas as direções, ele é conhecido como ācārya. Como ele pregava bhakti? Mesmo que alguém tivesse nascido em uma família de śūdras, muçulmanos ou qualquer outra, mas praticasse bhagavad-bhajana, Advaita Prabhu considerava tal pessoa melhor que um brāhmaṇa que não se ocupava em bhajana. Mesmo que alguém venha a nascer em uma venerável família de brāhmaṇas, seja um estudante exemplar e de boa conduta, fale apenas a verdade e jamais minta, se tal pessoa não se ocupar em bhagavad-bhajana, ela será inferior àquela que nasceu em uma família de śūdras ou cremadores mas que brada “Kṛṣṇa! Kṛṣṇa!”, mesmo que não pratique nenhuma outra atividade espiritual. Tal śūdra é superior a um caturvedī-brāhmaṇa: Advaita Ācārya provou tal ponto e o pregou.

Haridāsa Ṭhākura nasceu em uma família muçulmana. Na cerimônia de śrāddha do pai de Advaita Ācārya, o assento mais elevado e prasāda foram oferecidos primeiro à pessoa mais elevada. Advaita Ācārya estava realizando a cerimônia com a lua no local apropriado para o mês de Āśvina. As classes mais elevadas de brāhmaṇas estavam presentes – Bhaṭṭācārya, Trivedī, Caturvedī, Upādhyāya – e todos eram grandes eruditos. Após lavar seu pés, Advaita Ācārya mostrou-lhes seus respectivos lugares. Na frente havia um assento elevado e Advaita Prabhu estava de pé e pensando, "quem colocarei neste assento?"

Todos os eruditos pensavam: “Conheço tantas escrituras; certamente este assento será oferecido a mim.” Silenciosamente, todos eles aspiravam por isso. Advaita Ācārya saiu da casa e viu Haridāsa Ṭhākura, vestindo um laṅgoṭī e sentado ao lado da porta. Haridāsa estava pensando, “Os brāhmaṇas farão sua refeição aqui, então Advaita Ācārya certamente nos dará um pouco da prasāda deles.” Ele era tão humilde que pensou que se entrasse dentro da casa, ela poderia ser contaminada. De repente Advaita Ācārya o abraçou e Haridāsa Ṭhākura disse, "Oh, você é um brāhmaṇa e eu sou um muçulmano! Por me tocar, agora você deve se banhar." Mas após segurá-lo e levá-lo para dentro, Advaita Ācārya o colocou no assento elevado, gerando um grande rebuliço para todo lado. Os brāhmaṇas disseram, “Ao trazer um muçulmano até aqui, você contaminou este lugar e nos insultou! Não comeremos aqui!" Levando seus potes de água, todos se levantaram e partiram. Insultaram Advaita Ācārya, dizendo, “Você está indo contra os princípios de dharma!”

Mas Advaita Ācārya disse, “Hoje atingi o sucesso em minha vida e hoje meu pai alcançou Vaikuṇṭha. Ao oferecer respeitos a um Vaiṣṇava, hoje milhões dos meus ancestrais superaram māyā. Se Haridāsa Thākura comer aqui, será o mesmo que alimentar milhões de brāhmaṇas.”
Haridāsa Thākura começou a chorar e pensar, “Por causa de mim, todos estes brāhmaṇas foram insultados e não estão comendo.”


Mas Advaita Ācārya disse, “Haridāsa, hoje você certamente tomará prasāda aqui. Esta será a nossa grande boa fortuna." Então, disse aos brāhmaṇas, “Ele ficará e nenhum de vocês receberá prasāda. Na verdade, todos vocês devem partir imediatamente, pois já é um grande pecado ver os seus rostos. Haridāsa tem grande consideração por mahā-prasāda, por isso ele se inclui na classe de Vaiṣṇava. Qualquer um que não aceite isso é um ateísta, e aquele que julga um Vaiṣṇava por seu nascimento também. Vocês podem ir embora daqui e levar suas ofensas com vocês. Estão ofendendo Haridāsa e também me ofenderam.”

Todos os eruditos saíram da casa, mas do lado de fora, enquanto se preparavam para partir, começaram a conversar entre eles. "Advaita Ācārya não é uma pessoa ordinária. Ele é um grande erudito, conhece todas as escrituras e é um pregador de bhakti.” Continuaram a conversar e após reconsiderarem, retornaram, caíram aos pés de Advaita Prabhu e imploraram por perdão.

Advaita Ācārya teve muitos filhos, um deles chamado Acyutānanda, mas por alguns deles não praticarem bhajana, ele não os considerava mais seus filhos e os renunciou. Somente considerava seus sucessores aqueles que praticavam bhajana a Bhagavān. Especialmente devido a um incidente em Jagannātha Purī, Acyutānanda tornou-se seu sucessor. O Ratha-yātrā estava em andamento e, naquela época, Acyutānanda era apenas um pequeno garoto. Alguns Vaiṣṇavas vieram e perguntaram a Advaita Ācārya, “Qual o nome do guru de Śrī Caitanya Mahāprabhu?” Ele respondeu, “Keśava Bhāratī.”



Naquele momento, Acyutānanda estava sentado no colo do seu pai e após ouvir isso, começou a tremer de raiva. Ele era apenas um pequeno garoto! No entanto, levantou-se do colo do seu pai e começou a se afastar, dizendo, "Você não pode ser meu pai se pensa assim. Śrī Caitanya Mahāprabhu é o guru de todo o mundo! Como alguém poderia ser o guru dEle?”

Lágrimas surgiam nos olhos de Advaita Ācārya, e ele disse, "Você realmente será conhecido como meu filho. O que você disse está correto: Mahāprabhu é o guru de todo o mundo, mas ao realizar Seus passatempos na forma humana, Ele precisa dar exemplo aos outros. Caso contrário, o que aconteceria? Como as pessoas deste mundo saberiam que é necessário aceitar um guru? "

Desta forma, Advaita Ācārya fez muitas coisas maravilhosas. Ele foi assistente de todos os passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Portanto, hoje oferecemos uma oração especial aos pés de Advaita Ācārya para que ele seja misericordioso conosco de modo que possamos progredir continuamente em bhakti e, finalmente, alcançarmos o serviço direto de Śrī Gauracandra.


Tradução: Madhukari Radhika devi dasi
Revisão: Ramananda das (Hari Cavalcante)

Capítulo 7 do Sri Prabandhavali

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